Já escrevi sobre os melhores restaurantes para comer francesinha no Porto, mas faltava alguma inside information sobre este prato tão popular (apesar de não tão típico) da nossa cidade. Ora vamos lá descobrir qual o segredo da francesinha do Porto!
O segredo da francesinha do Porto
Antes de desvendar os mistérios da francesinha no Porto, vou explicar brevemente o que é para aqueles que nunca tiveram a oportunidade de comer uma. É uma sanduíche – classificada como uma das melhores sanduíches do mundo! -, em que entre duas fatias de pão encontram bife, salsicha fresca, linguiça, fiambre e mortadela. Tudo isto coberto por queijo flamengo ou gouda, e, a rematar este festival de sabores, um saboroso molho picante.
É um prato pesado, complexo em sabores e texturas (e com pelo menos 2000 calorias…), e por isso merece um estômago vazio, uma cerveja gelada e boa companhia para acompanhar 😉
Foi criado durante os anos 60 por Daniel Silva, um emigrante que adaptou a receita francesa croque monsieur à gastronomia do Norte de Portugal, e daí a introdução dos diversos enchidos e do molho picante como elemento de equilíbrio do prato.
O que pouca gente sabe sobre a francesinha é que antes era considerada um lanche rápido, confeccionado sem o bife e com pouco molho (uma vez que era bastante mais picante que o actual), e com o decorrer do tempo foi evoluindo e crescendo em importância até se tornar o prato mais típico do Porto.
Introduções feitas, deixem-me dizer que os tripeiros são extremamente cuidadosos na escolha dos restaurantes onde vão comer uma francesinha. Por isso, para escrever este artigo fui ao Francesinha Café, um dos meus sítios preferidos e que têm ganho o prémio de melhor francesinha nos últimos anos.
Depois de apreciar a minha francesinha – um estômago cheio é pré requisito de uma escrita inspirada!, falei com o Sr. Fernando, o fantástico cozinheiro, e com a sua esposa, a D. Lurdes, que recebe os clientes com o sorriso mais gentil do Porto.
“O segredo de uma boa francesinha é usar ingredientes de qualidade. Nós fazemos o molho de raiz, usando apenas ingredientes naturais (nada de enlatados, caldos knorr ou molhos pré feitos!). Para além disso, usamos bife do lombo, e garantimos que todas as carnes são grelhadas na perfeição para que não tenham gordura desnecessária.”
A esta altura, o Sr. Fernando tira do frigorífico um tupperware com um lombo inteiro para que eu possa verificar a qualidade da carne. E deixem-me que vos diga, que a carne parecia um leque pela forma como se abria suavemente nas mãos do Sr. Fernando!
“As pessoas podem ou não gostar de molhos diferentes, dependendo dos seus gosto pessoais e das memórias que associam a cada sabor. Mas a qualidade do prato em si – isso tem uma medida absoluta, e a minha francesinha é a melhor!”
E o que pensa sobre variações da francesinha? Há restaurantes que fazem Francesinhas com leitão, bife de porco e até sem carne, e queria saber a opinião do Sr. Fernando sobre o tema. “Para mim, é uma receita tradicional e deve ser preservada como tal. De outra forma, perderá a sua essência com o tempo. Além disso, com o aumento do turismo há imensos sítios a cozinhar interpretações pobres da verdadeira Francesinha, e os turistas saem daqui com uma imagem errada deste prato fantástico. É nossa missão evitar que tal aconteça!”
Pessoalmente, não poderia concordar mais com ele. A gastronomia é um dos principais veículos de transmissão da cultura de uma país e, como tal, deve ser tão protegida como os monumentos ou os parques nacionais. E, ao ver o amor que o Sr. Fernando e a D. Lurdes dedicam ao seu trabalho, todo o cuidado que têm na selecção dos melhores ingredientes e o tempo investido a aperfeiçoar a sua receita, tenho a certeza que a francesinha vai continuar a ser a assinatura gastronómica do Porto.