Gosto bastante de história judaica e, curiosamente, é também um dos temas mais procurados nas tours privadas que faço.
Assim, neste artigo encontrará a história da sinagoga do Porto e da comunidade israelita do Porto. Espero que goste!
A história da Sinagoga do Porto
Foi com prazer que me desloquei a Belmonte à descoberta da sua herança judaica, e é com o mesmo sentimento que vos escrevo agora sobre a sinagoga do Porto. Que, por sinal, é também a maior da Península Ibérica 🙂
A sinagoga do Porto, construída em 1938, foi o pináculo da obra do Capitão Barros Basto, um oficial muito condecorado durante a 1ª Guerra Mundial – foi quem, aliás, hasteou a bandeira republicana na Câmara Municipal do Porto, a 5 de Outubro de 1910.
Barros Basto descobriu que era de origem judaica aos 9 anos, através do seu avô paterno. Tendo em conta que a sua mãe não era judia (condição para que ele próprio fosse judeu), o Capitão converteu-se ao Judaísmo em 1920 em Marrocos.
Anos mais tarde, e após ter fundado a comunidade israelita do Porto, o Capitão dá início à chamada “Obra do Resgate”. Parte então para Trás os Montes e para as Beiras à procura dos criptojudeus que ali existiam, para os convencer a praticar a sua fé judaica em público.
Em 1929 iniciou-se a construção da sinagoga do Porto, a qual foi interrompida por falta de fundos, tendo sido retomada em 1933 devido a uma avultada doação concedida à comunidade israelita do Porto pelos herdeiros de Laura Kadoorie, uma judia de origem portuguesa casada com um filantropo judeu iraquiano.
Por volta dessa altura é implementada a Ditadura Salazarista em Portugal e Salazar, não sendo abertamente contra os Judeus, não aprovava o próprio Capitão Barros Basto, republicano convicto, e ainda menos as suas “práticas judaicas”. Em 1937, o Capitão foi afastado do Exército sob acusações de homossexualidade e pedofilia.
As comunidades criptojudaicas que tinham sido reveladas durante a Obra do Resgate, vendo o que acontecera ao seu líder e com medo de represálias, voltaram ao culto secreto. Mas, ainda assim, em 1938 foi inaugurada a sinagoga do Porto – caso único na Europa, onde, às portas da 2ª Guerra Mundial, se queimavam sinagogas (basta lembrar a “Noite de Cristal”, ocorrida no mesmo ano).
O timing da abertura da sinagoga do Porto foi perfeito. O regime salazarista não permitia a atribuição de vistos a judeus mas também não recusava a sua entrada. Assim, a comunidade israelita do Porto abriu as portas da sua sinagoga, abrigando judeus fugidos da Europa Central – cerca de 400 pessoas maioritariamente de origem polaca, que vagueavam pelas ruas do Porto à espera da passagem para países mais ricos, mais longínquos da Alemanha Nazi e onde os deixassem estabelecer profissional e socialmente, algo que Salazar não permitia.
Terminada a guerra, a comunidade israelita do Porto naturalmente esmoreceu mas, nos últimos anos, tem vindo a crescer. Esse crescimento recente deve-se à vinda de judeus franceses, que preferem viver em Portugal, um país notoriamente mais tolerante, a suportar o crescimento da extrema direita na Europa Central.
A actual comunidade israelita do Porto
A comunidade israelita do Porto conta actualmente com 150 membros activos de 19 nacionalidades diferentes, tem uma loja de produtos kosher (exclusivamente para os membros da sua comunidade), e a previsão da abertura de um cemitério judaico e de uma escola, mas ainda sem datas definitivas.
Antigamente era possível visitar a Sinagoga do Porto mediante marcação prévia mas desde que abriu o museu judaico, não. O museu é de entrada gratuita mas aconselha-se um donativo consciente.