Para mim, é por demais interessante estudar as ruas do Porto. Testemunhas silenciosas do tempo, raras vezes lhes foram atribuídas nomenclaturas aleatórias; de facto, pelo nome (e evolução do nome) de uma rua, podemos auferir da sociedade que a viu nascer e em que se insere. Pois que a rua não muda de sítio, mas muda a sua importância, a sua localização relativa e a sua utilização pelos moradores da cidade.
Para mim, é por demais interessante estudar as ruas do Porto. Testemunhas silenciosas do tempo, raras vezes lhes foram atribuídas nomenclaturas aleatórias; de facto, pelo nome (e evolução do nome) de uma rua, podemos auferir da sociedade que a viu nascer e em que se insere. Pois que a rua não muda de sítio, mas muda a sua importância, a sua localização relativa e a sua utilização pelos moradores da cidade.
Assim, alegremente saí para a Rua Escura à procura da sua história.
A Rua Escura, estando tão próxima da génese da cidade (a Sé), é das ruas mais antigas do Porto. Era de sobeja importância por ser uma das ruas que assegurava a ligação à zona nobre da cidade, ou seja, ao burgo episcopal, através da Porta de S. Sebastião (entretanto desaparecida, era uma das quatro portas da cidade, aquando da muralha primitiva). De facto, a primeira referência que se conhece desta rua data de 1301 sob o nome de Rua Nova, tendo sido o seu nome alterado para Rua Escura por volta de 1404. Pensa-se que esta mudança de nome esteja ligada à abertura de outra Rua Nova (hoje Rua do Infante D. Henrique), no reinado de D. João I. Também existem registos de que a Rua Escura se chamaria Rua do Ferro, por existir nela o Recolhimento de Nossa Senhora do Ferro, para antigas prostitutas e outras mulheres em situação de pobreza.
Mas já divago na história. Voltemos ao nome.
De facto não encontrei registos escritos sobre o nome da Rua em si, mas ouvi os relatos dos escassos moradores, que me garantem dever-se o nome aos edifícios monumentais que existiam nos tempos medievais, onde é hoje a Rua de Pena Ventosa, e que não deixavam entrar luz directa na Rua, daí a denominação “escura”.
Imagino que um desses mesmos edifícios possa ter sido a antiga Casa da Câmara, conhecida popularmente pela “Casa dos 24”, por nela se reunirem os 24 representantes dos 12 ofícios da cidade do Porto. Funcionava como uma assembleia municipal e a sua presença física, tão próxima da Sé, era um desafio per se ao poderio da Igreja Católica, algo que encontraremos ao longo de toda a história do Porto. Em meados do século XVIII as sessões camarárias que aí tinham lugar mudaram-se para a Rua das Flores. O edifício foi abandonado, vetado ocasionalmente a utilizações menores que o não dignificavam; caiu no esquecimento.
Nos anos 40 toda a zona da Sé foi reabilitada tendo-se procedido à demolição de muitos edifícios; a ideia era devolver esta zona da cidade aos seus habitantes, diminuir em ruído arquitectónico o que se compensaria com uma visão clara sobre a Sé, o Porto e o rio Douro. Nessa altura descobriram-se as ruínas da Casa da Câmara (visíveis na primeira foto), sobre as quais foi construída a torre que se vê já na segunda e na terceira fotos, e que alberga hoje um Posto de Turismo.Agora a pergunta que vocês não querem fazer: tráfico de drogas e prostituição, há muito? Se da segunda não vi, da primeira suspeitei. Garantem-me os moradores que a situação está agora mais controlada, que os turistas trouxeram uma nova vida e segurança. Da minha parte, não me senti insegura em momento algum, entretida que estava a descobrir os pormenores desta rua pitoresca.
E, uma vez que aqui estou, deixem que vos mostre uma pequeníssima pérola: o oratório da Capela de S. Sebastião, um dos dois oratórios sobreviventes da procissão do Senhor dos Passos, que a Ordem dos Agostinhos Descalços organizava até 1832 (o outro situa-se em frente à Igreja de S. Francisco).
Posto isto, quem vem comigo descobrir as ruas que convergem na Rua Escura? Ficariam surpresos por saber onde nos vão levar! 🙂