5 coisas que o Porto e Londres têm em comum

Quando eu e a Clarissa, blogger brasileira no magnífico Dondeando Por Aí, nos conhecemos, foi amizade à primeira vista. Daí…

Sara Riobom
8 de August de 2016

Quando eu e a Clarissa, blogger brasileira no magnífico Dondeando Por Aí, nos conhecemos, foi amizade à primeira vista. Daí a surgir a ideia de escrevermos juntas foi um passo – e o empurrão foi o Brexit, ou o-fim-da-União-Europeia-como-sempre-a-conhecemos, sobre o qual a Clarissa escreveu uma reflexão sobre a reação de Londres ao acontecimento.

Decidimos tornar o Brexit em algo positivo, procurando as ligações entre as cidades onde vivemos – Porto e Londres – contribuindo assim, modestamente, para a aproximação de duas culturas que a política quer ver separadas. Podem ler o artigo da Clarissa sobre as 5 coisas de Londres aqui. Esperamos que gostem! 🙂

1 – O aproveitamento turístico do Harry Potter

Desde que Harry Potter se tornou um fenómeno mundial que todas as cidades onde J. K. Rowling, a autora dos livros, viveu, tentam de alguma forma comercializar este facto, e o Porto e Londres não são uma excepção.
No Porto, existem lendas e tours construídas à volta das mesmas, e até a nossa querida Livraria Lello organiza esporadicamente noites harry – potterianas, em que que os miúdos se vestem como alunos de Hogwarts, com muita magia e surpresas à mistura.

Foto do lançamento mundial do novo livro da saga: Harry Potter & The Cursed Child, na Livraria Lello. Foi uma loucura, com milhares de pessoas à porta da Livraria!
Foto do lançamento mundial do novo livro da saga: Harry Potter & The Cursed Child, na Livraria Lello. Foi uma loucura, com milhares de pessoas à porta da Livraria!

Esta ligação à Livraria Lello não é totalmente descabida; J. K. Rowling era uma confessa admiradora da livraria, possível inspiração para a Livraria Flourish & Blotts, onde Harry Potter compravas os seus livros, ou até a Loja de Ollivander, onde Harry comprou a sua varinha mágica. E só quem nunca visitou a Livraria Lello é que poderá duvidar da sua influência na escrita de J. K. Rowling… todo o edifício grita história e magia! 🙂
Existe outra história que poderá ter o seu fundo de verdade: que o uniforme dos alunos de Hogwarts foi inspirado no traje académico português, que varia de cidade para cidade, mas que a estrutura é basicamente um fato negro e uma capa larga, da mesma cor.harry finalJá a criação do mágico de artes negras Salazar Slytherin ser inspirada na figura do ditador português António Salazar… quem sabe dizer em que ponto de maturação é que se encontrava a escrita de Harry Potter e a Pedra Filosofal, quando J. K. Rowling deixou o Porto? J. K. Rowling esperava sair daqui já com o livro escrito, e em vez disso levou uma filha, algumas mágoas e muitas ideias. Dela, ficou-nos uma difusa memória, da qual apenas nos recordamos quando vemos a longa fila para a Livraria Lello, ou os grupos de estudantes cirandando de cá para lá 🙂
Em Londres, dá para fazer uma visita guiada aos Estúdios do Harry Potter, como a Clarissa conta nesse post com todas as informações detalhadas.

2 – A paixão pelo Vinho do Porto

Antes de escrever sobre o assunto, vou desfazer um mito turístico: aqui no Porto nós não temos por hábito beber vinho do Porto! Na verdade, os ingleses são os verdadeiros apreciadores (e conhecedores) do vinho do Porto, e devemos-lhe em grande parte o desenvolvimento e a fama mundial deste vinho que nos é tão caro.
Contrariamente à crença popular, o vinho do Porto não terá sido inventado por marinheiros britânicos que adicionariam conhaque / brandy ao vinho que compravam aos portugueses, de forma a que este aguentasse a viagem. Muito provavelmente, o vinho já era feito de forma rudimentar segundo os processos actuais, ou seja com a adição de aguardente após alguns dias de fermentação da uva, o então chamado “vinho doce”, feito pelos… monges portugueses, para servir na eucaristia!

Navio Mercian, da empresa Ellerman Papayanni Lines, de Liverpool, no rio Douro, c. 1957. Foto retirada do blog www.portoarc.blogspot.com
Navio Mercian, da empresa Ellerman Papayanni Lines, de Liverpool, no rio Douro, c. 1957. Foto retirada do blog www.portoarc.blogspot.com

Ao longo dos séculos XV a XVIII, foram muitos os ingleses que se instalaram no Douro Vinhateiro tendo em vista a produção de vinho do Porto, como se verifica pelos nomes das melhores caves: Taylor’s, Kopke, Graham’s, Cockburn’s, Sandeman, Offley, Churchill’s… mas não podemos de forma alguma descurar o papel importantíssimo do Marquês de Pombal, o estadista português que ordenou a delimitação da região vinícola do Douro e controlou todo o processo de produção através da criação da Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro.

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Foto aérea das caves do vinho do Porto. Como podem ver, muitas das marcas são inglesas! © www.fotografoviajante.blogspot.com

Assim, ambos, portugueses e ingleses, contribuíram para a criação de um dos melhores produtos portugueses 🙂

3 – A panca pelo futebol

Não, não me vão apanhar aqui a falar mal do Benfica ou do Sporting :), que o meu objectivo é focar-me apenas na relação que o Porto tem com o seu principal clube de futebol: o Futebol Clube do Porto (FCP).
Este clube, fundado em 1893 (curiosamente, devido a António Nicolau d’Almeida, comerciante de vinho do Porto, que tinha conhecido o futebol nas suas frequentes viagens a Inglaterra), tem cerca de 120.000 sócios (muitos deles registados logo à  nascença, tal é a devoção clubística dos seus pais!), que apoiam fervorosamente o seu clube nas suas provas nacionais e internacionais. O FCP tem, naturalmente, a sua claque incondicional, chamada Super Dragões, uma das maiores e mais reconhecidas claques a nível mundial (basta dizer que foi o seu líder, Fernando Madureira, quem liderou a claque Portuguesa nos confrontos futebolísticos deste último Europeu, em que nos sagrámos campeões 🙂fcpExiste também uma história divertida para ilustrar o quanto o Porto gosta do seu clube que diz que quando o Porto joga contra o Benfica (a principal equipa de Lisboa) e ganha, vai para a Avenida dos Aliados celebrar; quando perde, vai para a Avenida dos Aliados… para impedir que os adeptos do Benfica lá celebrem a sua vitória! 🙂
E, porque Portugal ganhou o UEFA Euro 2016, deixo-vos aqui a foto que demonstra o quão intensamente o Porto viveu cada jogo da Selecção Nacional, na nossa querida Avenida dos Aliados! 🙂

Foto retirada da página de facebook da Porto Lazer
© Ágora Porto

4 – Mistérios medievais por resolver

Em cidades antiquíssimas como Porto e Londres é natural que persistam inúmeros mistérios medievais por resolver, que os mais empenhados se esforçam por decifrar. Eu, pessoalmente, gosto bastante de história judaica, como já devem ter percebido no meu artigo sobre a belíssima Sinagoga do Porto.
Ao longo de mais de 250 Inquisição Portuguesa não só perseguiu, torturou, matou centenas de Cristãos Novos como eliminou todos os vestígios arquitectónicos e sociais de uma larga franja da sociedade (os judeus representariam cerca de 20% da população portuguesa). Por isso, é um desafio prazeroso descobrir os resquícios de presença judaica e mostra-la nas minhas tours. E, felizmente, já tive a oportunidade de o fazer com a própria Clarissa! 🙂
doist1Daí nasceu a nossa amizade, e foi também aí que a Clarissa me falou de uma tour nocturna fabulosa que existe em Londres sobre o Jack, O Estripador, que defende a tese de que Jack pertencia à comunidade judaica. Podem ler tudo sobre essa tour num artigo que a Clarissa escreveu, que eu própria não vou perder na próxima vez que for a Londres 🙂

5 – O Porto e Londres são ambas cidades portuárias

O Porto, cidade derivada de um “primitivo núcleo urbano”chamado Calle, foi, aquando da conquista romana da cidade, rebaptizado como Portus Cale, numa possível alusão a ser “o porto de Calle”. Este facto já nos indica a importância que o rio Douro teve na formação do Porto, e como, até meados do século XVIII, a cidade terá vivido do pulmão comercial gerado por esse mesmo rio. É assim que a cidade viu nascer a Alfândega, o Palácio da Bolsa, a Feitoria Inglesa e até diversas fábricas e armazéns junto da zona ribeirinha.
No entanto, o rio Douro sempre se mostrou um rio particularmente difícil de navegar – repleto de rochedos escondidos, achegado a cheias cíclicas-, atreito a inúmeros naufrágios de navegadores mais inexperientes dessa forma de manobrar o barco com marcas nas margens, da qual já vos falei na entrevista ao Pedro Abrunhosa.

Nestas imagens, de autoria desconhecida, pode ver-se o vapor
Nestas imagens, de autoria desconhecida, pode ver-se o vapor “Porto” a naufragar, e como estaria a barra do Douro nesse dia fatídico. Foto retirada do blog www.portoarc.blogspot.com

Assim, e entre a relutância da burguesia portuense e das vozes que já clamavam pela construção de um novo Porto, na zona de Leixões, aconteceu um trágico acidente, em 1852: o naufrágio do vapor “Porto”, que ceifou a vida a 66 pessoas contra as pedras da forcada (onde é agora o Castelo de S. João da Foz). Diz-se mesmo que foi esse acidente que fez com que, em 1895, fosse finalmente inaugurado o Porto de Leixões, como porto de abrigo (a extensão a porto comercial levaria mais umas décadas valentes e muita teimosia por parte do Porto). O Porto de Leixões retirou completamente o tráfego dos tradicionais cais da Ribeira, no Porto, e em Vila Nova de Gaia,  movimentando, em 2015, mais de 18M de toneladas de mercadorias.
Nesse mesmo ano, foi inaugurado o novo Terminal de Cruzeiros do Porto de Leixões, que está nomeado para o prémio internacional ‘AZAwards’, concurso canadiano que distingue anualmente os melhores projectos de arquitectura e design contemporâneo.

Fotos retiradas do website da APDL.
© APDL

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