A flor do Porto é, como vocês já devem saber, a camélia. De facto, muito embora a camélia seja uma flor originária da Ásia, mais concretamente de países que se estendem da China ao Japão, foi no Porto que encontrou pousio e jardins a que chamar casa.
Por isso, fiz um video em que explico porque é que a flor do Porto é a camélia 🙂
Os primeiros registo de camélias no Porto datam de 1810, encomendadas de Inglaterra por Luís de Van Zeller, para cedo proliferarem pelos jardins públicos e privados da cidade.
A esse facto não será alheia a presença no Porto de uma forte comunidade inglesa nessa época, devido ao comércio do Vinho do Porto, uma vez que foi precisamente em Inglaterra que surgiu a primeira camélia na Europa, em 1739.
Segundo Joana Andersen Guedes, antiga presidente da Associação Portuguesa de Camélias, os portuenses de maiores posses, com possibilidade de fazerem viagens ao exterior, trouxeram consigo esta espécie, na altura considerada exótica, que viam nas feiras internacionais.
Assim, no início do século XIX surgem os primeiros jardins privados com camélias, pelas mãos da família Van Zeller, na sua Quinta de Fiães, e da família Allen, na Quinta Vilar d’Allen. Nesta última existe um belíssimo jardim de inspiração romântica com inúmeras japoneiras, construído em meados do século XVIII e mantido com todo o amor e cuidado pelos actuais proprietários.
A camélia, for de Inverno, adaptou-se rapidamente ao clima de temperaturas amenas e solos ácidos do Porto. De tal forma que o poeta Giusuè Carducci, de visita ao rei Carlos Alberto, exilado no Porto, escreveria em 1849 que “o Porto é como um rio correndo entre camélias”.
O período áureo das camélias no Porto dá-se pelas mãos do horticultor portuense chamado José Marques Loureiro (1830-1898), detentor da maior colecção de plantas do país da altura.
Um homem inteligentíssimo, José M. Loureiro rodeia-se da elite portuense e estabelece relações comerciais no estrangeiro que lhe permitem trazer uma maior expressão à horticultura do Porto. Encomenda muitas espécies exóticas de camélias que planta no seu Horto da Quinta das Virtudes, e em 1865 participa na Exposição Internacional no Palácio de Cristal.
Nessa exposição, José M. Loureiro reproduziu a árvore genealógica da Casa Real de Bragança em camélias de cera, com nomes da própria família. Em 1844, publica o jornal hortícola “Jornal Portuense”, no qual já identifica 38 variedades de camélias do Porto! Mais tarde, em 1870, lança o Jornal de Horticultura Prática, no qual andei a vascular até encontrar esta lindíssima gravura da Camélia Portuense Princesa Real:
No século XX esquecem-nos momentaneamente das nossas camélias para nos voltarmos a lembrar delas nas últimas décadas. A primeira exposição de camélias no Porto foi em 1984 e todos os anos a Câmara Municipal do Porto organiza um extenso e completo programa exclusivamente dedicado às camélias. Esse programa inclui atividades tão diversas como exposições, concertos, roteiros turísticos pela cidade e vale muito a pena 🙂