Lembra-se do artigo que escrevi sobre o Mercado do Bolhão, o mercado mais icónico do Porto? Esse artigo é parte de uma série sobre os mercados do Porto, de resposta a um desafio que me foi lançado por um leitor do Brasil. Hoje dou continuidade a essa série, escrevendo sobre o lindíssimo Mercado Ferreira Borges.
A história do Mercado Ferreira Borges no Porto
Descendo a Rua Mouzinho da Silveira em direção à Ribeira, encontra o Mercado Ferreira Borges do seu lado direito; imponente edifício vermelho, lindíssima estrutura de vidro e de ferro.
Este mercado foi construído em 1885 e o seu nome é uma homenagem a um famoso político portuense que apoiou as tropas liberais durante a nossa guerra civil, no século XIX. É um monumento impressionante, dos poucos que restam da época do ferro (da qual o Palácio de Cristal fazia parte).
O mais curioso sobre o Mercado Ferreira Borges é que muito raramente foi usado como mercado. Diz-se que a população do Porto nunca sofreu de amores por mercados fechados, preferindo fazer as suas compras “a céu aberto”, e que por isso não acarinhou o Mercado Ferreira Borges.
O Mercado Ferreira Borges teve várias ocupações, desde ser usado como armazém para equipamento militar a albergar uma cozinha comunitária para a população mais carenciada da cidade. Mais tarde, foi usado como mercado de fruta, mas de forma bastante precária.
Estas utilizações precárias, aliadas à sua localização privilegiada, rapidamente começaram a ser usadas como argumento para que o Mercado Ferreira Borges fosse demolido para dar lugar a (mais) um parque de estacionamento.
Felizmente, Adriano Vasco Rodrigues, o notável presidente da Comissão de Arte e Arqueologia da Câmara Municipal do Porto na década de 70, opôs-se firmemente a este propósito, e o Mercado permaneceu intacto.
Mais tarde, surgiu a proposta de converter o Mercado Ferreira Borges num museu de arte contemporânea, mas, mais uma vez, Adriano Vasco Rodrigues opôs-se. “A Arte contemporânea frequentemente requer espaços amplos e ao ar livre para dispor esculturas e albergar espectáculos temporários. Por outro lado, dada a localização ribeirinha do Mercado Ferreira Borges, os quadros e outras obras de arte frágeis ficariam rapidamente deterioradas. Foi então que descobriram um palácio vazio na zona ocidental da cidade, com um frondoso jardim: O Museu de Serralves havia encontrado o seu espaço”.
Em 2010, a Câmara Municipal do Porto concedeu os direitos de utilização do Mercado Ferreira Borges a uma casa de espetáculos muito conceituada: o Hard Club.
Os arquitectos responsáveis pelo projecto fizeram um trabalho verdadeiramente notável. Mantendo a fachada intacta (obrigatório por lei), construíram dois enormes paralelepípedos negros sem ligação com as estruturas do mercado. Assim, e apesar da sua envergadura, são estruturas perfeitamente temporárias e que podem dar espaço a novas utilizações do Mercado Ferreira Borges. Dentro dos paralelepípedos, encontram-se salas de concerto e, no topo de um deles, um maravilhoso restaurante, ideal para provar petiscos portugueses.
Na minha opinião, é uma reinterpretação notável de um antigo mercado. Sobre qual mercado é que gostava que eu escrevesse de seguida? 🙂