Já vos falei das mais bonitas igrejas da cidade, mas hoje vou falar-vos de uma em especial, que é a Igreja de Cedofeita no Porto. Por sinal, a mais antiga da cidade.
A nossa pequena Igreja de Cedofeita é uma das memórias mais antigas do Porto. De facto, um dos primeiros documentos que refere a existência desta Igreja data de 1120, ou seja, contemporâneo dos primórdios de Portugal, que estabelece os limites da Diocese, que englobavam “os mosteiros de Baucis, de Cittofeita, de Acquis Santis, de Lecis, (…)”.
Como nem só de documentos vive a história, pedi ao Sr. Santos, um ourives da Rua de Cedofeita, que, para além de ser um bom amigo, tem um extraordinário conhecimento da cidade do Porto, que me falasse um pouco mais da Igreja de Cedofeita.
Ora reza a lenda que por volta do ano de 559 Teodomiro, um rei Suevo, desesperado por ver o seu filho doente, fez uma promessa a S. Martinho de Tours: se o seu filho se curasse, construiria uma igreja longe das muralhas da cidade. Teodomiro tinha tanta fé que, ainda antes de ver o seu filho curado, ordenou o arranque da construção da referida igreja. Quando o seu filho chegou – curado -, a igreja estava “CITTO FACTA”, cedo feita, o que deu origem ao nome Cedofeita.
Há inclusivamente uma inscrição a comemorar tal facto, colocado em 1767 no pórtico da igreja, mas certezas da existência da igreja datam apenas do início do século XII, como escrevi no início.
Toda esta zona, agora tão bonita e central, tinha apenas a Igreja de Cedofeita e pouco mais. Para terem uma ideia, em 1571 o bispo do Porto, D. Rodrigo Pinheiro, recebeu um pedido para transferir a Igreja e Colegiada de Cedofeita: “Has dignidades e cónegos da colegiada igreja de S. Martinho de Cedofeita, termo desta cidade do Porto (…) fazem saber a V. S. que se ha alguma igreja que tenha necessidade mui urgente para se transladar e mudar de termo e despovoado para povoado, he esta igreja de S. Martinho de Cedofeita; primeiramente por ha dita igreja estar mui distante desta cidade (…). Além disto por a dita igreja estar em hum logar termo… e sai não ha concurso e ajuntamento de fieis nella; tanto que has vezes se não acha quem nos ajude a uma missa”.
O bispo do Porto não acedeu ao pedido e a zona de Cedofeita ficou vetada ao isolamento praticamente até à segunda metade do séc. XIX, em que se construíram uma série de valências (uma creche, escolas, biblioteca,…). A própria Igreja de Cedofeita foi significativamente alterada, com a adição de estruturas que escondiam o seu traçado original.
Em 1934, a Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais iniciou as obras de restauro que purgaram a Igreja de Cedofeita de todas as estruturas acessórias, devolvendo-a ao seu encanto original, que ainda hoje temos o privilegio de ver 🙂