Já vos falei dos miradouros do Porto, de onde se tem as vistas mais bonitas sobre a cidade, e hoje vou falar-vos do ponto mais alto da cidade.
Não, não é a Torre dos Clérigos nem o Paço Episcopal (onde se localiza a Sé Catedral). Na verdade, é num edifício discreto, fora do rebuliço da baixa, que guarda a memória de uma das sociedades (outrora) mais poderosas do Porto: a Cooperativa dos Pedreiros.
Já vos falei dos miradouros do Porto, de onde se tem as vistas mais bonitas sobre a cidade, e hoje vou falar-vos do ponto mais alto da cidade.
Não, não é a Sé nem o Paço Episcopal (onde se localiza a catedral). Na verdade, é num edifício discreto, fora do rebuliço da baixa, que guarda a memória de uma das sociedades (outrora) mais poderosas do Porto: a Cooperativa dos Pedreiros.
Talvez as gerações mais novas não tenham sequer ouvido falar desta Cooperativa, criada em 1914 por um grupo de pedreiros que trabalhava na construção da estação de São Bento. Com o objectivo de salvaguardar os direitos de trabalho dos pedreiros, a Cooperativa dos Pedreiros funcionava como receptor directo de trabalho (cortando assim os intermediários no processo). Por outro lado, e numa altura em que o Estado Providência não era uma realidade, a Cooperativa assegurava o sustento das famílias dos pedreiros em casos de acidentes de trabalho, tendo assim uma forte componente social.
O impacto da criação da Cooperativa dos Pedreiros fez-se sentir imediatamente. Lançada, literalmente, a primeira pedra para a construção da sede da Cooperativa do Povo Portuense, não mais pararam os pedidos à Cooperativa dos Pedreiros, que incluíram edifícios mediáticos da cidade do Porto. A título de exemplo: a Câmara Municipal do Porto; o Monumento à Guerra Peninsular; o Palácio do Comércio; o Banco de Portugal… a lista é, na verdade, interminável e muito presente nos quotidianos portuenses!
Mas o que tem isso a ver com o ponto mais alto do Porto? Tenham paciência; sabem como gosto de usar, como antecâmara das respostas, um pouco de contexto histórico 🙂
Em 1937, um dos fundadores da Cooperativa e gestor da mesma, Moreira da Silva, foi a Paris onde se informou das novas técnicas de transformação de granito, tendo trazido para Portugal o granito polido. Esta técnica inovadora, que permite revestir os edifícios de placas de granito polido, ao invés de os construir em granito maciço, foi de tal forma desenvolvida pela Cooperativa dos Pedreiros que, em 1958, esta ganhou a medalha de ouro na Exposição Universal e Internacional de Bruxelas. Este reconhecimento trouxe uma grande notoriedade à Cooperativa, que começou a fazer projectos a nível mundial.
Em 1969, no auge do Império do granito polido, a Cooperativa dos Pedreiros construiu o edifício Miradouro, na Rua D. João IV nº 1000. O edifício Miradouro comporta dezenas de apartamentos cujas rendas revertiam, precisamente, para os fundos sociais dos pedreiros. Por outro lado, nas imediações do edifício Miradouro localizavam-se as oficinas dos pedreiros, bem como uma série de valências para usufruto das mesmas. No último piso está o restaurante Portucale, o qual é, efectivamente, o ponto mais alto da cidade do Porto.
A Cooperativa dos Pedreiros já não tem a importância de outros tempos; a saída das oficinas do centro da cidade para Matosinhos foi também o reflexo da transição da época do granito para a época do betão. O seu legado continua, no entanto, a dominar a cidade: não é à toa que um olhar sobre o Porto se revela granítico, e, por isso, o cinzento foi uma das minhas escolhas para representar a paisagem portuense.
Um agradecimento muito especial ao Sr. Fernando Martinho, Gestor da CPOPP, que teve a amabilidade de me guiar numa visita ao Museu da Cooperativa. Obrigada!