Finalmente está a cumprir a sua resolução de Ano Novo (de 2015?) e está a aprender sobre vinhos. Parabéns! Há muito o que aprender e beber.
Nos nossos tours privados no Douro, enquanto divagamos sobre vinhos portugueses, diferentes tipos de carvalho e política de meados do século XVIII, surge frequentemente uma questão: “O que é o vinho do Porto?”.
Por isso, decidimos voltar à estaca zero e começar do princípio. Vamos falar sobre vinho português e vinho do Porto, assumindo uma base de conhecimento negligenciável por parte do nosso leitor (perdoe-nos se não for esse o caso). Lembre-se, não há perguntas estúpidas. Vamos começar?
Os vinhos portugueses
Portugal é um país com uma extensa tradição de viticultura. Contando-se várias regiões produtoras de vinho, cada uma com o seu clima e solo específicos, cujas denominações são protegidas por lei.
A produção de vinho português é uma das principais indústrias do nosso país. As videiras ocupam uma área plantada de 2000 km2, o que, comparado com a área total do país de 92000 km2, nos dá o título de país com mais vinícolas em proporção do seu tamanho do mundo!
Os produtores de vinho português, por norma, misturam várias espécies de uvas diferentes para fazer um vinho. Escolhendo 3 ou 4 de entre mais de 200 variedades de uva nativas do país, as possibilidades de sabor e textura são infindáveis.
Com uma diversidade tão grande, nunca sentirá dificuldade em eleger um dos maravilhosos vinhos portugueses para as mais variadíssimas ocasiões: o churrasco, o casamento, a noite de cinema em casa ou a esplanada num final de tarde.
Mas no paraíso de Baco só pode haver um Cristiano Ronaldo, e esse vinho foi baptizado com o nome da nossa antiga e mui nobre cidade: o Porto.
O que é o vinho do Porto?
O vinho do Porto é um estilo de vinho fortificado feito exclusivamente na região vinícola do Douro, só com uvas nativas da região, cuja fermentação é interrompida ao acrescentar uma aguardente vinícola de 77%, que eleva o teor alcoólico e conserva grande parte dos açúcares naturais da uva.
Para obter essa denominação de origem protegida (D.O.C.), este vinho fortificado tem que seguir um conjunto restrito de normas, que podem ser resumidas em 3 pontos: localização, uvas e fortificação.
Localização: o Vale do Douro
Guiando do Porto na direcção Este chegaremos à lindíssima região vinícola do Vale do Douro, passados 80 km. Apesar da região produzir bastante vinho “de mesa” (Douro D.O.C.), o Porto é o seu produto mais popular.
Com solos rochosos, temperaturas cortantes no Inverno e um calor no Verão que faria um paulista tremer de medo, o Vale do Douro está associado com tintos vibrantes. O calor extremo leva ao desenvolvimento de uvas com muito açúcar e casca espessa, produzindo vinhos muito frutados e arrojados.
Uvas
Contando centenas de espécies de uvas nativas do país, a maioria sendo exclusivas de Portugal, torna-se raro encontrar vinícolas com Pinot Noir ou Cabernet Sauvignon.
Para obter a denominação de Vinho do Porto, não é permitido usar espécies de uva importadas, havendo uma lista de uvas nativas aprovadas para a sua produção.
Fortificação, ou como é feito o vinho do Porto?
Depois da época da colheita (chamada Vindima), em meados de Setembro, as uvas são levadas para tanques de granito chamados lagares, para serem pisadas. Em Portugal a tradição ainda é o que era, e a pisa da uva continua a ser o método preferido de vinificação.
Depois da pisa a fermentação começa. O fermento quebra o açúcar em álcool. Para um vinho de mesa, este processo dura cerca de uma a duas semanas até esgotar o açúcar. Isto normalmente acontece quando o vinho atinge 12% a 14% do seu volume em álcool.
No caso do Vinho do Porto, a meio do processo de fermentação (aproximadamente 3 ou 4 dias depois da pisa) faz-se a “fortificação”: acrescentar uma aguardente vínica (cachaça produzida de uvas) de 77% álcool, numa proporção de 1 para 5 de vinho, matando o fermento e interrompendo a fermentação ao elevar o volume alcoólico do vinho para 20%, assim conservando a maior parte dos açúcares naturais do vinho. Nunca se adicionam açúcares.
Qual é a melhor forma de provar vinho do Porto?
Nós somos tendenciosos, mas acreditamos piamente que a melhor forma de provar o vinho do Porto é diretamente na fonte, usando os nossos tours privados no Douro para explorar esta região produtora.
Uma outra opção é explorar as melhores caves de vinho do Porto. Nesse sentido, tenho duas sugestões para si, que lhe permitem poupar bastante dinheiro. Pode:
- Comprar o ingresso para o ônibus turístico, cruzeiro no rio Douro e visita às caves da Calém por 25,20€. Isto é muito económico porque o cruzeiro no rio custa 15€, uma visita uma das caves por volta de 15 / 18€ e o ônibus turístico cerca de 18€ dia. Assim, poupe dinheiro adquirindo o seu ingresso online para esta actividade.
- Comprar o ingresso para uma excursão de trem pela cidade com cruzeiro pelo rio e visita a uma adega. A melhor opção se quer tirar o maior partido do dia e é muito barato – apenas 22€. Se adquirir os ingressos separadamente irá gastar acima de 40€ pelas mesmas atividades, por isso aproveite! Se não gosta de água, consegue uma experiência similar comprando o ingresso de trem mágico com degustação de Vinho do Porto.
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O que é um Vinho do Porto Tawny?
Não há um único tipo de vinho do Porto. Há vários estilos e denominações, desde os modernos Brancos e Rosés aos mais tradicionais Tintos. Passo a descrever em detalhe as principais categorias.
Vinho do Porto Branco e Rosé
Vinho do Porto Branco
É um vinho do Porto feito a partir de uvas brancas, normalmente envelhecido por apenas 2 ou 3 anos. Hoje em dia, felizmente, já começam a surgir no mercado belíssimos vinhos do Porto brancos com 10, 20, 30 e 40 anos. Uma maravilha.
Vinho do Porto Rosé
Este estilo é feito a partir de uvas tintas, cujas cascas são filtradas durante a fermentação, que é feita a baixas temperaturas, resultando num vinho muito elegante e descomprometido.
Como beber vinho do Porto Branco e Rosé
Estes estilos de vinho do Porto devem ser bebidos bem frescos, a 8°C, como um aperitivo antes da refeição. São perfeitos para acompanhar um pôr-do-sol com salgadinhos.
São ideais para fazer o famoso cocktail Porto Tónico – misture num copo uma parte de vinho do Porto Branco ou Rosé e uma parte água tónica (Schweppes), com limão e gelo.
Qual a diferença entre um vinho do Porto Tawny e um vinho do Porto Ruby?
“Tawny” e “Ruby” são as duas principais categorias de vinho do Porto tinto. Ambos são feitos com uvas tintas, sem nenhuma diferença, distinguindo-se apenas pela forma como são armazenados para envelhecer.
O vinho do Porto, depois da pisa, é levado em barris de carvalho para envelhecer nas caves. O carvalho é o tipo de madeira ideal porque atribui notas e características desejáveis ao vinho, e a sua porosidade permite uma oxidação gradual do vinho.
Os seus nomes vêm do inglês, e são uma referência à sua cor. O vinho do Porto Ruby apresenta uma cor vermelha escura muito profunda, como a pedra preciosa. É tipicamente envelhecido entre 2 a 10 anos em barris muito grandes, chamados bolseiros, com um volume de cerca de 40.000L. Como tem muito pouco contacto com a madeira e o oxigénio, mantém as características intactas de um bom tinto.
O vinho do Porto Tawny, por outro lado, surpreende com uma cor âmbar, comparável a um uísque envelhecido. É habitualmente envelhecido em barris mais pequenos, de 600L cada. Através do contacto com a madeira ganha notas de especiarias, tabaco e bacon, e perde a sua cor por oxidação.
Como beber um vinho do Porto Tawny e um vinho do Porto Ruby?
Os Ruby’s devem ser servido a 15°C, para sobremesa, acompanhando chocolate negro ou queijos fortes.
Os Tawny’s estarão no seu melhor à volta dos 18°C e duns pastéis de nata.
O dilema de “vinho do Porto Tawny vs Ruby” está cheio de mitos e preconceitos. Não existe, objectivamente, um melhor do que o outro, é apenas uma questão de gosto.
Apesar de haver uma miríade de subcategorias dentro dos Tawny’s e Ruby’s, há um que se destaca por ser considerado, por muitos, como o melhor que o Vinho do Porto tem para oferecer: o Vintage.
O que é um vinho do Porto Vintage?
Um vinho do Porto Vintage é uma subcategoria do Ruby, feito com as uvas da colheita dum só ano.
A norma nos Tawny’s e Ruby’s standard (leia-se: gama de entrada) é a mistura de várias colheitas de vários anos diferentes, resultando na média de idades dos vários vinhos que são usados.
No entanto, um vinho do Porto Vintage nunca será apresentado como “5 anos” ou “10 anos”, mas sim com um ano específico, como 2003, 2007 ou 2011, porque é produzido com essa única colheita (safra). Envelhece em balseiros durante 2 anos e é engarrafado logo de seguida.
Os vinhos do Porto Tawny’s e Ruby’s standard são filtrados quando são engarrafados, terminando definitivamente o processo de envelhecimento, mas o Vintage não é. Logo, um Vintage é praticamente o único estilo de vinho do Porto que continua a envelhecer dentro da garrafa, criando alguns sedimentos. Decantar um Vintage é sempre recomendado.
Por quanto tempo pode ficar aberta uma garrafa de Vinho do Porto?
A forma mais fácil de entender esta questão é: quanto mais tempo um vinho envelhece em carvalho, mais tempo se conserva depois de aberto. Simples.
Uma garrafa de Tawny é o ideal para o bebedor ocasional, durando de 3 a 6 meses aberta. Um Ruby aguenta um máximo de 2 meses, enquanto um Vintage já estará passado passadas 48 horas. Portanto quando abrir uma garrafa de Vintage, traga os seus amigos!
Qual é o preço de um vinho do Porto?
Mais uma vez, não há respostas certas. O preço dos vinhos do Porto depende de inúmeras variáveis, nomeadamente:
- Da “idade” do vinho: por exemplo, dentro da categoria dos vinhos do Porto Tawny’s, os de 10 anos são mais económicos que os de 20 anos, e assim sucessivamente.
- Do ano da safra: no caso dos vinhos do Porto Vintage, não são apenas os vinhos mais velhos os mais caros. Os vinhos de anos considerados vintage clássicos – ou seja, anos que foram excepcionais para toda a região e não apenas para um produtor em específico– são mais caros.
- Da dimensão do produtor: naturalmente, os produtores de grande dimensão conseguem obter maiores economias de escala na produção de vinho do que os pequenos produtores, influenciando assim o preço dos seus vinhos do Porto.
Esperemos ter ajudado a trilhar o caminho do mundo dos Vinhos Portugueses e do Porto. Agora que fizemos a teoria, estaremos à sua espera para a parte prática!