O Porto é uma cidade com uma extensíssima história. Muita tinta faz correr esta nossa modesta casa, cada vez mais.
Com o recente boom turístico, a cidade conhecida como “Invicta” tornou-se a inspiração de inumeráveis livros, ensaios e artigos. Desde a sua milenar catedral até ao último restaurante da moda, factos e notícias sobre o Porto proliferam.
No entanto, para quem já está familiarizado com a nossa “sanduíche” típica, com o vinho do Porto, com os estudantes académicos (que definitivamente NĀO SĀO fãs do Harry Potter) ou com a ponte que Eiffel, de facto, construiu, assim como a que não construiu… este artigo é para si.
Hoje vamos enumerar 5 curiosidades sobre o Porto que provavelmente desconhece!
As melhores curiosidades sobre o Porto
1. Apresento o nosso “Robin Hood”
Nascido José Teixeira da Silva em 1818, natural de Penafiel, este militar condecorado tornou-se famoso pela alcunha de “Zé do Telhado”
A sua infância rural e pacata termina quando se alista no exército, como membro da Cavalaria. Os tempos turbulentos de 1837 levam a que escolha uma facção num conflito, que o obriga a exilar-se em Espanha. Regressou em 1846 para liderar uma contra-revolução, desta vez com sucesso, que culmina com o título de Cavaleiro da “Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito”.
Infelizmente, nem a condecoração mais prestigiante do País paga as contas. José acumula dívidas e cai em desgraça, recorrendo ao banditismo para sobreviver e ficando conhecido como “Zé do Telhado”.
Zé e o seu gangue atormentam os palácios e residências mais opulentas do Norte de Portugal. Conhecido como bandido, contava-se que era também extremamente educado e polido sempre que se deparava com uma das suas vítimas.
Em 1859 as autoridades finalmente puseram-lhe a mão. Durante o seu julgamento, a sua mais nobre acção tornou-se conhecida: Zé terá partilhado, durante todo o seu tempo de fora-da-lei, os “despojos” com os vizinhos mais pobres da sua terra natal.
Condenado a cumprir pena na Cadeia da Relação, no centro do Porto, actual Centro Português de Fotografia, foi forçado a exilar-se em Angola. Aí consta que teve um resto de vida feliz, agora afastado de quaisquer revoluções ou telhados.
2. O Porto não tem porto nem… Porto.
O Porto, cujo próprio nome indica, teria (e teve!) um porto, também seria onde o vinho homónimo se encontra.
Infelizmente, nenhum dos dois é verdade.
O município, ou cidade, do Porto é, aproximadamente, um rectângulo de 3,5 kilómetros por 12 km, totalizando uma área de 42 km². Não se resume ao seu pequeno Centro, ao contrário do que muitos visitantes assumem.
A Área Metropolitana do Porto, no entanto, estende-se por 1024 km² a que mais de 1,5 milhões de almas chamam lar. Incluídos estão os municípios em redor, como por exemplo Gaia (a outra margem do Rio Douro) e Matosinhos (uma cidade pesqueira, a Norte do Porto).
E é precisamente nestes municípios fronteiriços que encontramos, na verdade, as duas coisas mais associadas com o Porto: as Caves de Vinho do Porto em Gaia e o porto de Leixões em Matosinhos – baptizado segundo as formações rochosas da área antes da construção do Porto, o segundo mais movimentado do País e responsável por 25% do seu comércio internacional.
Isto será o nosso pequeno segredo, por isso shhhh… é daquelas curiosidades sobre o Porto que não convém espalhar muito!
3. Vade Retro, Fidalgo!
O que nos podem revelar os edifícios do Porto quanto às suas tradições pesqueiras e comerciais, assim como a suspeição dos Portuenses quanto à classe alta da nobreza? Bastante, na verdade.
Em todo o lado encontramos granito. O solo do Porto é maioritariamente composto desta rocha, que é óptima para construção. Mas não é tão adequada para a agricultura, que dificilmente singra neste tipo de solo rochoso e austero.
E austeros se tornaram os cidadãos do Porto, levando vidas humildes como pescadores e mercadores. Os homens da cidade passavam meses a fio em alto mar pescando, ou praticando o comércio em Flandres ou Bristol, deixando as suas famílias para poder providenciar-lhes.
Nesta altura, do séc. XII até idos do séc. XVI, qualquer nobre poderia exigir hospitalidade a qualquer cidadão do reino. Em sua casa poderia ficar o tempo que desejasse, usufruindo da sua comida e rações, e até mesmo da sua mulher e filhos.
Os portuenses não gostaram da ideia de chegar a casa, depois de longos meses fora, e depararem-se com a sua esposa grávida. Assim como com o pouco fruto da sua agricultura consumido pela gula de um qualquer privilegiado. Por isso, requereram os Portuenses ao rei D. João I que, em decreto de 1390, determinou que os fidalgos “não podiam pousar dentro dos muros da cidade nem nela comprar casas ou quintas”.
Quem questionasse a seriedade deste decreto seguiria o exemplo de Rui Pereira, conde da Feira no séc. XV. Quando este fidalgo decide mudar-se para uma casa na Ribeira, os Portuenses começaram a mandar-lhe recados através da sua serventia para que se pusesse a monte. Ignorados os avisos, os populares decidiram fazer justiça pelas próprias mãos e invadiram a sua casa. O conde conseguiu fugir, mas a sua casa foi deixada em cinzas.
Em suma, que nunca se questionem os devidos privilégios das gentes do Porto. Eis uma das curiosidades sobre o Porto que não encontra em mais lado nenhum.
4. Porto, a cidade das… claraboias
Porto, conhecida como a cidade das pontes, famosa pelo seu vinho, vistas e comida… tem algo de particular. A sua colecção de excêntricas e diversas claraboias!
Olhe para cima. Aliás, vá a um miradouro e olhe para baixo. O centro histórico do Porto é um emaranhado de casas estreitas mas compridas, construídas certamente antes da invenção do “planeamento urbano”. A iluminação, no seu interior, estava assim dependente de claraboias.
Com a mais recente vontade, por parte duma elite mercantil abastada, de se diferenciarem da restante população, o que outrora era uma necessidade de iluminação tornou-se num símbolo de estatuto social. Quanto mais extravagante a claraboia, melhor!
5. Nunca prometa o seu coração ao Porto
Porque podem levá-lo muito literalmente… como fizemos em 1834.
Como o nosso caro leitor pode já saber, o Porto foi o palco de um brutal cerco durante uma guerra civil que opôs dois irmãos, da família real, entre 1832 e 1833: D. Pedro (IV de Portugal e I do Brasil, primeiro imperador) e D. Miguel.
Pedro, constitucionalista convicto, entra em 1832 na cidade do Porto com 7500 homens para combater as tropas de D. Miguel, que defendiam o direito de Miguel ser rei absoluto de Portugal, sem divisão de poderes.
Os Portuenses combateram corajosamente com Pedro – que se tornou conhecido no Porto como o “Rei Soldado”. Tão corajosamente, de facto, que continuamos a usar o título dado pela filha de Pedro: a “cidade Invicta”.
Mas quis o destino que a história não ficasse por aqui. No seu leito de morte, menos de um ano após a sua vitória sobre o seu irmão mais novo, Pedro segurou a mão da sua esposa e rogou-lhe para que o Porto fosse “o túmulo do coração d’ele”.
Seis meses e muito debate sobre onde seria colocado o seu coração, a sua vontade foi feita. O coração de Pedro foi depositado na igreja da Lapa, onde o Rei Soldado assistia à missa todos os dias durante o Cerco do Porto.
Segundo um cronista que assistiu à cerimónia na altura, não teve “luxo nem pompa real, mas sim abundância de lágrimas e não faltou um verdadeiro sentimento”.
E sentimento é o que levamos nos corações por este magnífico episódio da nossa história. Tanto o é, que dominando o brasão da cidade, peça central, está… o coração de Pedro!
Espero que tenha gostado desta lista de curiosidades sobre o Porto. Para descobrir mais, deixe-se seduzir por um dos nossos tours privados na cidade.