5 curiosidades sobre o Porto

O Porto é uma cidade com uma extensíssima história. Muita tinta faz correr esta nossa modesta casa, cada vez mais.Com…

Sara Riobom
27 de August de 2023

O Porto é uma cidade com uma extensíssima história. Muita tinta faz correr esta nossa modesta casa, cada vez mais.
Com o recente boom turístico, a cidade conhecida como “Invicta” tornou-se a inspiração de inumeráveis livros, ensaios e artigos. Desde a sua milenar catedral até ao último restaurante da moda, factos e notícias sobre o Porto proliferam.

No entanto, para quem já está familiarizado com a nossa “sanduíche” típica, com o vinho do Porto, com os estudantes académicos (que definitivamente NĀO SĀO fãs do Harry Potter) ou com a ponte que Eiffel, de facto, construiu, assim como a que não construiu… este artigo é para si.
Hoje vamos enumerar 5 curiosidades sobre o Porto que provavelmente desconhece!

As melhores curiosidades sobre o Porto

1. Apresento o nosso “Robin Hood”

robin hood portugues ze telhado
© Decaedela. Zé do Telhado (direita), o Robin Hood português.

Nascido José Teixeira da Silva em 1818, natural de Penafiel, este militar condecorado tornou-se famoso pela alcunha de “Zé do Telhado”
A sua infância rural e pacata termina quando se alista no exército, como membro da Cavalaria. Os tempos turbulentos de 1837 levam a que escolha uma facção num conflito, que o obriga a exilar-se em Espanha. Regressou em 1846 para liderar uma contra-revolução, desta vez com sucesso, que culmina com o título de Cavaleiro da “Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito”.
Infelizmente, nem a condecoração mais prestigiante do País paga as contas. José acumula dívidas e cai em desgraça, recorrendo ao banditismo para sobreviver e ficando conhecido como “Zé do Telhado”.

edificio perto clerigos instituto fotografia antiga prisão
© Livraria Lello. A prisão onde o Zé do Telhado ficou, atual Centro Português de Fotografia.

Zé e o seu gangue atormentam os palácios e residências mais opulentas do Norte de Portugal. Conhecido como bandido, contava-se que era também extremamente educado e polido sempre que se deparava com uma das suas vítimas.
Em 1859 as autoridades finalmente puseram-lhe a mão. Durante o seu julgamento, a sua mais nobre acção tornou-se conhecida: Zé terá partilhado, durante todo o seu tempo de fora-da-lei, os “despojos” com os vizinhos mais pobres da sua terra natal.
Condenado a cumprir pena na Cadeia da Relação, no centro do Porto, actual Centro Português de Fotografia, foi forçado a exilar-se em Angola. Aí consta que teve um resto de vida feliz, agora afastado de quaisquer revoluções ou telhados.

2. O Porto não tem porto nem… Porto.

antigo cais gaia vinho transporte
© Wikimedia Commons. Uma foto que mostra pessoas a transportar barris de vinho na Rua das Sete Passadas, Cais da Gaia.

O Porto, cujo próprio nome indica, teria (e teve!) um porto, também seria onde o vinho homónimo se encontra.
Infelizmente, nenhum dos dois é verdade.
O município, ou cidade, do Porto é, aproximadamente, um rectângulo de 3,5 kilómetros por 12 km, totalizando uma área de 42 km². Não se resume ao seu pequeno Centro, ao contrário do que muitos visitantes assumem.
A Área Metropolitana do Porto, no entanto, estende-se por 1024 km² a que mais de 1,5 milhões de almas chamam lar. Incluídos estão os municípios em redor, como por exemplo Gaia (a outra margem do Rio Douro) e Matosinhos (uma cidade pesqueira, a Norte do Porto).
E é precisamente nestes municípios fronteiriços que encontramos, na verdade, as duas coisas mais associadas com o Porto: as Caves de Vinho do Porto em Gaia e o porto de Leixões em Matosinhos – baptizado segundo as formações rochosas da área antes da construção do Porto, o segundo mais movimentado do País e responsável por 25% do seu comércio internacional.
Isto será o nosso pequeno segredo, por isso shhhh… é daquelas curiosidades sobre o Porto que não convém espalhar muito!

3. Vade Retro, Fidalgo!

ribeira antigo quadro henry leveque
© Biblioteca Nacional de Portugal. Uma pintura da antiga Ponte dos Barcos, obra do Henry L’Évêque (1817).

O que nos podem revelar os edifícios do Porto quanto às suas tradições pesqueiras e comerciais, assim como a suspeição dos Portuenses quanto à classe alta da nobreza? Bastante, na verdade.
Em todo o lado encontramos granito. O solo do Porto é maioritariamente composto desta rocha, que é óptima para construção. Mas não é tão adequada para a agricultura, que dificilmente singra neste tipo de solo rochoso e austero.
E austeros se tornaram os cidadãos do Porto, levando vidas humildes como pescadores e mercadores. Os homens da cidade passavam meses a fio em alto mar pescando, ou praticando o comércio em Flandres ou Bristol, deixando as suas famílias para poder providenciar-lhes.

casa mais antiga porto
© Ncultura.pt. Uma imagem que mostra uma das casas mais antigas do Porto (à direita), construída no século XIV.

Nesta altura, do séc. XII até idos do séc. XVI, qualquer nobre poderia exigir hospitalidade a qualquer cidadão do reino. Em sua casa poderia ficar o tempo que desejasse, usufruindo da sua comida e rações, e até mesmo da sua mulher e filhos.
Os portuenses não gostaram da ideia de chegar a casa, depois de longos meses fora, e depararem-se com a sua esposa grávida. Assim como com o pouco fruto da sua agricultura consumido pela gula de um qualquer privilegiado. Por isso, requereram os Portuenses ao rei D. João I que, em decreto de 1390, determinou que os fidalgos “não podiam pousar dentro dos muros da cidade nem nela comprar casas ou quintas”.
Quem questionasse a seriedade deste decreto seguiria o exemplo de Rui Pereira, conde da Feira no séc. XV. Quando este fidalgo decide mudar-se para uma casa na Ribeira, os Portuenses começaram a mandar-lhe recados através da sua serventia para que se pusesse a monte. Ignorados os avisos, os populares decidiram fazer justiça pelas próprias mãos e invadiram a sua casa. O conde conseguiu fugir, mas a sua casa foi deixada em cinzas.
Em suma, que nunca se questionem os devidos privilégios das gentes do Porto. Eis uma das curiosidades sobre o Porto que não encontra em mais lado nenhum.

4. Porto, a cidade das… claraboias

claraboia porto marques
© Eduardo Vales. Uma linda clarabóia no Marquês, Porto.

Porto, conhecida como a cidade das pontes, famosa pelo seu vinho, vistas e comida… tem algo de particular. A sua colecção de excêntricas e diversas claraboias!
Olhe para cima. Aliás, vá a um miradouro e olhe para baixo. O centro histórico do Porto é um emaranhado de casas estreitas mas compridas, construídas certamente antes da invenção do “planeamento urbano”. A iluminação, no seu interior, estava assim dependente de claraboias.
Com a mais recente vontade, por parte duma elite mercantil abastada, de se diferenciarem da restante população, o que outrora era uma necessidade de iluminação tornou-se num símbolo de estatuto social. Quanto mais extravagante a claraboia, melhor!

5. Nunca prometa o seu coração ao Porto

dom pedro monumento aliados
© Wikimedia Commons. O monumento Pedro IV na Praça da Liberdade mostra a entrega do coração de D. Pedro à cidade.

Porque podem levá-lo muito literalmente… como fizemos em 1834.
Como o nosso caro leitor pode já saber, o Porto foi o palco de um brutal cerco durante uma guerra civil que opôs dois irmãos, da família real, entre 1832 e 1833: D. Pedro (IV de Portugal e I do Brasil, primeiro imperador) e D. Miguel.

coracao don pedro porto
© Porto.pt. O coração de Dom Pedro é mantido na Igreja da Lapa.

Pedro, constitucionalista convicto, entra em 1832 na cidade do Porto com 7500 homens para combater as tropas de D. Miguel, que defendiam o direito de Miguel ser rei absoluto de Portugal, sem divisão de poderes.
Os Portuenses combateram corajosamente com Pedro – que se tornou conhecido no Porto como o “Rei Soldado”. Tão corajosamente, de facto, que continuamos a usar o título dado pela filha de Pedro: a “cidade Invicta”.
Mas quis o destino que a história não ficasse por aqui. No seu leito de morte, menos de um ano após a sua vitória sobre o seu irmão mais novo, Pedro segurou a mão da sua esposa e rogou-lhe para que o Porto fosse “o túmulo do coração d’ele”.
Seis meses e muito debate sobre onde seria colocado o seu coração, a sua vontade foi feita. O coração de Pedro foi depositado na igreja da Lapa, onde o Rei Soldado assistia à missa todos os dias durante o Cerco do Porto.
Segundo um cronista que assistiu à cerimónia na altura, não teve “luxo nem pompa real, mas sim abundância de lágrimas e não faltou um verdadeiro sentimento”.
E sentimento é o que levamos nos corações por este magnífico episódio da nossa história. Tanto o é, que dominando o brasão da cidade, peça central, está… o coração de Pedro!
Espero que tenha gostado desta lista de curiosidades sobre o Porto. Para descobrir mais, deixe-se seduzir por um dos nossos tours privados na cidade.

Guarde este artigo para mais tarde:

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