Nos meus anos como guia turístico, tive a oportunidade de receber o mais variado tipo de elogios à minha cidade: acolhedora, pitoresca, a cidade das Pontes, do Vinho, da excelente gastronomia, etc. Mas nunca ouvi ninguém a gabar a Música e a Canção portuense, ou a música ao vivo no Porto.
Hoje mudaremos isso.
O Porto viu nascer vários artistas de renome nacional e internacional, tais como lendas da música revolucionária Sérgio Godinho e José Mário Branco; o Pop/Rock de Rui Veloso, Clã, G.N.R., Ornatos Violeta, Blind Zero, Táxi; o novo movimento de hip-hop nacional dos 90’s liderado pelos filhos de ‘Nova Gaia’ Dealema e Mind da Gap; a teia de heavy metal inicialmente tecida pelos extintos Tarântula e mais tarde continuada pelos MOSH, Ominous Circle ou Equaleft.
Desde a Revolução de 1974, Portugal tem seguido uma trajectória de abertura e novas mentalidades. O revolucionário álbum “Viagens”, lançado em 1994, do portuense Pedro Abrunhosa, mostrou ao público que a música nacional também vale a pena ser escutada, e que o Porto é central na cultura nacional.
Em 2001, tendo recebido a nomeação de Capital Europeia da Cultura, o Porto procedeu à melhoria das suas infraestruturas, particularmente nas salas de concerto, tornando-as numa paragem obrigatória numa visita à cidade. Guarde a nossa lista de salas de música ao vivo no Porto, e assegure-se que não perde nenhum dos seus concertos preferidos.
Estas são as melhores casas para ouvir música ao vivo no Porto:
Casa da Guitarra e Auditório Fado
Várias localizações | Porto
Como o Fado é um género musical muito popular, decidi começar com esta lista dos melhores locais de música ao vivo no Porto.
No Porto, existem dois locais de música íntima com espetáculos diários de fado.
Uma delas é a Casa da Guitarra, uma loja de instrumentos musicais dedicada aos instrumentos tradicionais portugueses. O concerto acústico de Fado tradicional com instrumentos tradicionais é muito íntimo. Um vinho do porto será servido durante o interlúdio.
O outro chama-se Auditório da Baixa. O seu concerto de Fado difere da Casa da Guitarra da Casa da Guitarra, no sentido de apresentar a história do Fado, a diferença entre o Fado de Lisboa e o de Coimbra. Também possui uma seção inteiramente dedicada a Amália Rodrigues, a maior cantora de Fado. de todos os tempos.
Ambas são óptimas experiências, não há como errar 🙂
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Casa da Música (2005)
Avenida da Boavista, 604-610 | Porto
Tomando o espaço de um terminal de eléctricos desactivado, a chegada da “Casa” veio como um meteorito. Não só pelo seu impacto na cultura da cidade, e de como as salas interagem com o seu público, mas também pelo facto de, visto de cima, a área se parecer, literalmente, com uma cratera dum meteorito.
Obra-prima do aclamado arquitecto holandês Rem Koolhaas, foi inaugurado em 2005 e construído no contexto da Porto Capital Europeia da Cultura 2001 (sim, nós sabemos). O edifício tornou-se um ícone do Porto, admirado por melómanos e especialmente por arquitectos. Tão icónico é o edíficio irregular de betão armado, que se tornou o símbolo da própria Casa da Música.
A Orquestra Sinfónica do Conservatório de Música do Porto têm uma residência permanente desde 2006. Mas as iniciais críticas de elitismo dissiparam-se com a sua agenda ecléctica e projectos arrojados. Entre eles, noites de reggae no estacionamento do edifício, sessões de clubbing na “Sala 2”, ou workshops infantis.
A Casa da Música não se fechou em si própria, no entanto. O pavimento inclinado em redor do edifício é o spot favorito dos skaters. Durante o Verão, um palco com concertos gratuitos é montado nessa área circundante.
Mesmo sem nenhum concerto na agenda, não perca a oportunidade de tomar um expresso ou até mesmo uma refeição no seu café – menus de almoço a partir de 12€ e de jantar a partir de 20€. É um lugar tranquilo para estudar, trabalhar, ou até mesmo dar explicações de Matemática (como o autor deste artigo já fez, no passado).
Venha conhecer a pérola da música ao vivo no Porto. Junte-se às visitas guiadas em Português, todos os dias às 11h e 16h, 10€ / pessoa. Não se esqueça de consultar a agenda da Casa da Música caso pretenda assistir a algum espectáculo.
Como chegar: A estação de metro Casa da Música fica a 5 minutos a pé.
Coliseu do Porto (1941)
Rua de Passos Manuel, 137 | Porto
“O Coliseu é nosso”, gritava a massa de gente que se acumulava à entrada deste recinto, a mais emblemática sala de música ao vivo no Porto, em Agosto de 1995.
O que começou como um pequeno e praticamente improvisado protesto, por um grupo inicialmente composto pelo Presidente da Câmara do Porto, Fernando Gomes, assim como actores, escultores e outros artistas portuenses, tornou-se num tour de force de residentes e lojistas locais, em luta contra a venda anunciada da sala.
Construído por iniciativa duma companhia de seguros em 1941, o edifício esteve para ser vendido à “Igreja Universal do Reino de Deus” (“IURD”), no Verão de 1995. Quando o negócio veio a público, os protestos não tardaram. Entre eles, a célebre pianista Helena Sá e Costa (1913-2006) que inaugurou o Coliseu do Porto em 1941 com uma interpretação de Mendelssohn; e o senhor “óculos escuros à noite” e pioneiro do funk-rock, Pedro Abrunhosa, que se algemou às grades do Coliseu até cancelarem a venda, tornando-se assim no símbolo de luta contra a tomada de conta da “IURD”.
O público prevaleceu. A sala de concertos seria comprada em Novembro de 1995 por um agrupamento composto pelas autoridades municipais, a Secretaria da Cultura e sócios individuais, a quem pertence ainda hoje. Apesar de, e não sem a sua ironia, o nome desta sala de concertos ser patrocinado por uma outra companhia de seguros desde 2018.
A sala de espectáculos preferida dos portuenses evitava assim um final trágico. Há mais de 50 anos que era a casa da ópera, jazz e estrelas do pop-rock, assim como do Fado e do circuito de Circo natalício, e por muito mais tempo continuará a ser.
Pontuado por performances de artistas nacionais e internacionais, como Bob Dylan (duas vezes), B.B. King (ídolo do rei do Blues português, Rui Veloso, que foi convidado ao palco para um comovente duo), e mesmo Miles Davis – que, na noite gélida de 16 de Março de 1991, estava tanto frio em palco que parou o concerto ao fim de uma hora queixando-se que não conseguia tocar, tais eram as condições na altura.
Com infraestruturas renovadas em 2001, esta sala de música ao vivo no Porto ainda recebe os melhores grupos nacionais e internacionais. Como o Wembley, em Inglaterra, o Coliseu do Porto é a sala onde grupos em ascensão se afirmam. Tocar no Coliseu é um bar mitzvah para as bandas nacionais, hoje mais do que nunca.
Veja qual poderá ser o próximo grande grupo português na agenda do Coliseu do Porto. A tradição do Circo Natalício mantém-se, e é ideal para crianças!
Como chegar: as estações de metro Bolhão e 24 Agosto ficam a 10 minutos a pé.
Teatro Rivoli (1932)
Rua do Bonjardim, 143 | Porto
“Mesmo sabendo que não gostavas,
Empenhei o meu anel de rubi
Para te levar ao concerto
Que havia no Rivoli”
– “A Paixão”, de Carlos Tê e Rui Veloso
Imortalizado tanto na nossa lista de melhores edifícios de art déco no Porto como na célebre canção do letrista Carlos Tê e génio do Blues Rui Veloso, o Teatro Rivoli sempre ocupou um lugar especial no coração dos portuenses. Segundo o próprio letrista, foi inspirado no concerto de Vinegar Joe, que tocou no Rivoli “com Robert Palmer mas sem a Elkie Brooks”.
No início dos anos 70, quando os Vinegar Joe deram o seu concerto, o Rivoli passava uma das épocas mais conturbadas da sua história.
Foi o primeiro edifício a ser erigido naquela que é conhecida hoje como a Praça Dom João I. Descrito pelo Jornal de Notícias, na altura da sua inauguração, como “indubitavelmente a última palavra em modernismo”, ou em 2001 aquando da renovação da Praça como “um exemplo muito interessante de neo-realismo fascizante”.
Vista como uma “grande casa de espectáculos”, recebendo as mais variadas óperas de renome, pianistas e violoncelistas nacionais e internacionais, nem sempre a sua receita compensava os custos. Nos anos 40 e 50, ao dedicar-se também à mais rentável arte do cinema, o Rivoli conseguia desta forma equilibrar a aposta em mais música ao vivo no Porto.
No entanto, a concorrência de outras grandes salas de cinema e da recentemente inventada televisão levou o Rivoli à decadência.
Durante este período, o declínio da sala era notório: concertos para salas quase vazias, orquestras que tinham de tocar com aquecedores no palco no Inverno. A Câmara Municipal do Porto avança com a compra do Rivoli, em 1989, transformando-o em Teatro Municipal.
Depois de renovações profundas, que mantiveram intactas a estrutura, fachada e espaços nobres do edifício, o Teatro passa por uma época de “renascença”, apresentando uma programação própria prolífica. Em 2001 foi o palco principal para acolher as produções da Casa da Música, cuja “Casa” não seria inaugurada antes de 2005.
Logo de seguida, com mudanças na administração municipal, o Teatro é privatizado e concessionado ao produtor de musicais lisboeta Filipe La Féria, preenchendo assim a totalidade da programação até abandonar a concessão, alegando dificuldades financeiras em 2011.
Foi o anúncio dessa decisão que provocou, em Outubro de 2006, um protesto muito semelhante ao que aconteceu no Coliseu: dezenas de actores e espectadores duma peça em cena, barricaram-se durante 3 dias contra a privatização do teatro, até serem removidos pela Polícia. Sem frutos.
Hoje em dia o Teatro Rivoli está no centro da vida cultural e da música ao vivo no Porto, e recomenda-se. E pode estar seguro, não é preciso empenhar um anel de rubi para assistir a música ao vivo no Porto.
Como chegar: A estação de metro Aliados fica a 1 minuto a pé.
Hard Club (1885 | 2010)
Rua da Bolsa, 19 | Porto
Instalado desde 2010 no edifício do centenário Mercado Ferreira Borges, o Hard Club vive a sua segunda vida.
Nota do autor: apesar da habitual confusão, o Hard Club não está, sequer remotamente, relacionado com o Hard Rock Café.
Em 1996 dois amigos, músicos, portuenses, assistem a um concerto de AC/DC em Lisboa, quando surge a questão: “Por que é que os gajos do Porto têm de ir a Lisboa para ver concertos?” Apesar de não faltarem salas para música ao vivo no Porto, as grandes salas eram demasiado para concertos de média dimensão. Um ano depois, em Vila Nova de Gaia, nasce o Hard Club, no lugar de uma antiga tanoaria.
Descrita como “um dos espaços de concertos mais bonitos da Europa” pelo director do festival português Paredes de Coura, o Hard Club era um espaço de encontro de músicos e de programação eclética e inovadora. A sua actividade não deve ser dissociada do boom musical portuense do final dos anos 90.
Infelizmente, a 31 de Dezembro de 2005, o mais emblemático espaço da música alternativa da cidade fechou. Rumores apontavam para uma tentativa dos proprietários rentabilizarem o edifício, em linha com o aumento da tendência turística do Porto, transformando-o num hotel. O projecto nunca foi concretizado, e o edifício encontra-se ainda hoje ao abandono.
Desde 2010, seguindo um concurso público de exploração do lendário Mercado Ferreira Borges, que o Hard Club dá cartas na música ao vivo no Porto. Pode consultar toda a programação do Hard Club.
Como chegar: A estação de comboios e de metro São Bento fica a 10 minutos a pé.
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