As ruas mais emblemáticas do Porto

Tal como a maioria das pessoas, quando passeio nas ruas do Porto dou por mim a querer saber a origem…

Sara Riobom
26 de April de 2018

Tal como a maioria das pessoas, quando passeio nas ruas do Porto dou por mim a querer saber a origem da toponímia de cada rua ou a história por detrás de algum edifício particularmente bonito.

Por isso, resolvi escrever um artigo sobre as ruas mais emblemáticas do Porto: aquelas com riqueza comercial, património histórico, arquitetura de tirar o fôlego ou histórias por desvendar. E, quanto mais aprendemos algo sobre as ruas no Porto, mais nos apaixonamos por esta cidade do Norte de Portugal.
“Debaixo do Porto, há outro Porto. Sob esse Porto de outrora, há ainda outros Portos. Há quatro mil anos de Porto dentro do Porto dos nossos dias, camadas sobre camadas de ocupação de várias épocas, sendo essa História um tecido composto pelos milhões de células que são as histórias dos que viveram, construíram, desconstruíram e reconstruíram o Porto durante os períodos romano, medieval e moderno.” – Porto Vivo. 2014

Estas são as ruas mais emblemáticas do Porto:

Rua Escura

© Vyacheslav Kotov

A Rua Escura situa-se nas traseiras da catedral do Porto. Esta rua sinuosa e de aspecto duvidoso, cuja toponímia já expliquei num artigo anterior, é ladeada de edifícios altos e bastante próximos entre si.
Registos históricos comprovam que a Rua Escura se chamava inicialmente Rua Nova, precisamente por ter sido uma das primeiras ruas do Porto a ser construída fora das muralhas primitivas da cidade.
Ao longo dos tempos, a Rua Escura ganhou má reputação,  associada ao consumo e tráfico de drogas pesadas. Na altura, a autarquia do Porto tentou resolver o problema através da abertura da rua a zonas mais ricas da cidade, como a Viela do Anjo. No entanto, a segregação social manteve-se no imaginário dos portuenses, que continuam a evitar este arruamento, apesar de a situação já estar controlada.
A Rua Escura é uma das ruas mais emblemáticas do Porto independentemente da sua reputação ainda algo duvidosa, que se vai alterando por força dos turistas, que a calcorreiam alegremente convivendo pacificamente com os traficantes que ainda se vêem por lá.
Pessoalmente, nunca tive problemas na Rua Escura (e passo lá a vida!), e o espírito de comunidade que lá se sente é verdadeiramente único. Por isso, deixe-se de preconceitos e aventure-se nesta rua magnífica.
Como chegar lá: a estação de comboios de São Bento fica a 5 minutos a pé.

Rua das Flores

© Porto24.pt

A Rua das Flores estende-se desde a estação de comboios de São Bento até ao Largo de São Domingos. O nome desta rua deriva precisamente do facto de ter sido construída num antigo campo onde existiam flores.
Esta rua foi construída a mando do rei D. Manuel I, responsável pela expulsão dos Judeus de Portugal em 1496. Nessa altura conturbada a monarquia portuguesa pretendia reafirmar a força da Igreja Católica em território nacional, tendo sido aberta a Rua das Flores que ligava vários monumentos religiosos, como o Convento de São Domingos (hoje em dia, Palácio das Artes), o Convento de Avé Maria de São Bento (onde agora é a estação de São Bento) e a Igreja da Misericórdia. No entanto, o principal motivo para a abertura da Rua das Flores prendia-se com a vontade de aliviar o tráfego da Rua da Bainharia, que lhe é paralela, e que ligava a zona ribeirinha à parte alta da cidade.
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Após a sua abertura, a Rua das Flores  tornou-se a rua dos mercadores, mais especificamente dos ourives. A proximidade à futura Avenida dos Aliados, o centro de negócios do Porto nos inícios do século XX, reafirmou a importância comercial da Rua das Flores.
Nos finais do século XX / princípios do século XXI a Rua das Flores foi perdendo o seu prestígio, sendo abandonada pelos comerciantes e pelos transeuntes. Para isso muito contribui a abertura de inúmeros centros comerciais no centro da cidade do Porto. Eu lembro-me perfeitamente de há 10 anos atrás não passar pela cabeça de ninguém ir passear na abandonada Rua das Flores. Como as coisas mudam!
Na última década a Rua das Flores foi completamente reabilitada, sendo agora uma das ruas mais emblemáticas do Porto. Para isso contribui o facto de se ter transformado numa rua exclusivamente pedestre.
Aqui pode encontrar um dos melhores hotéis do Porto, o fantástico Museu da Misericórdia do Porto bem como inúmeros cafés e lojas de souvenirs. Por outro lado, é um dos melhores locais do Porto para admirar artistas de rua.
Como chegar lá: a estação de comboios de São Bento fica a 1 minuto a pé.

Rua de Santa Catarina

© Armen Dzhagaryan

A Rua de Santa Catarina começa na belíssima Praça da Batalha e estende-se até à Praça Marquês de Pombal. O nome daquela que é uma das mais emblemáticas ruas do Porto deve-se à famosa capela oitocentista dedicada, precisamente, a Santa Catarina de Alexandria.
Esta rua nem sempre teve os seus impressionantes 1500m. Na verdade, embora a Rua de Santa Catarina tenha sido construída em 1748, foi em 1784 que sofreu uma grande intervenção pelas mãos do grande estadista João de Almada e Melo.
Nos anos 70 a Rua de Santa Catarina encheu-se de lojas de pronto a vestir (em 1988 abriu aqui a primeira Zara fora do território espanhol), de sapatarias, de pequenos restaurantes e confeitarias maravilhosas. Por outro lado, aqui encontra também o famoso Café Majestic. O ex libris da Rua de Santa Catarina é, no entanto, a Capela das Almas.
Como chegar lá: a estação de comboios do Bolhão fica a 5 minutos a pé.

Rua de Cedofeita

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© Gail at Large

O Porto sempre foi uma cidade dedicada ao comércio, como a Rua de Cedofeita, que vai desde a formosa Praça Carlos Alberto até à Rua da Boavista, pode atestar.
A Rua de Cedofeita foi inaugurada em 1762 com o objectivo de conectar a parte alta da cidade à zona ribeirinha. A pessoa responsável pela obra foi o famoso João de Almada.
O que pouca gente sabe é que antigamente esta rua se designava por Rua da Estrada, por ser a principal via de acesso na direcção da Póvoa de Varzim e de Viana do Castelo. Mais tarde foi rebatizada de Rua de Cedofeita em honra da Igreja de São Martinho de Cedofeita, por sinal a mais antiga do Porto.
A Rua de Cedofeita é uma das ruas mais emblemáticas do Porto pela diversidade do seu comércio de retalho de toda a espécie, bem como pela abertura recente de diversos bares (como por exemplo o Catraio Beer Shop e o Gota a Gota Wine House) bem como de restaurantes de comida internacional, como o BAO’s Taiwanese Burgers.
Por outro lado, é nesta rua que se encontra a casa habitada por D. Pedro IV (D. Pedro I, primeiro emperador do Brasil) durante o Cerco do Porto. O monarca habitava o Palácio dos Carrancas (actual Museu Nacional Soares dos Reis) antes deste edifício ter sofrido um ataque que o obrigou a realojar-se no número 395 da Rua de Cedofeita.
Como chegar lá: a estação de metro da Lapa fica a 5 minutos a pé.

Rua de São João

© Vyacheslav Kotov

Na ribeira e estabelecendo a ligação entre o rio Douro e a Rua dos Mercadores, encontra-se uma das mais importantes, relevantes e emblemáticas ruas do Porto. Baptizada em honra de São João, esta artéria da cidade ganha vida na noite de 23 de Junho, quando as celebrações são joaninas tomam lugar.
A Rua de São João foi também arquitectada por João de Almada, vulgo Marquês de Pombal do Porto. O traçado dos edifícios desta rua tem realmente uma certa influência pombalina, nomeadamente no nivelamento das janelas, mesmo aquelas com varandas.
É uma boa experiência calcorrear esta rua em direcção ao rio, perdendo-se na sua maravilhosa arquitectura.
Como chegar: a estação de metro São Bento fica a 9 minutos a pé.

Largo de São Domingos

© Porto Vivo

O Largo de São Domingos conecta algumas das ruas mais emblemáticas do Porto, de diversas eras: medieval (Rua dos Mercadores), século XVI (Rua das Flores) e século XIX (Rua Mouzinho da Silveira). O nome homenageia o Mosteiro de São Domingos, construído entre 1239 e 1245. O mosteiro foi consumido pelo fogo em 1832, tendo sobrevivido apenas parte da fachada. Na localização deste monumento desaparecido encontra-se agora uma fundação da juventude.
No Largo de São Domingos encontra vários restaurantes de cozinha de autor (o DOP, de Rui Paula, por exemplo, mas também o LSD) e uma farmácia lindíssima.

Se descer completamente a rua, vai dar de caras com o belíssimo Palácio da Bolsa, um dos monumentos mais fascinantes da cidade.
Como chegar: A estação de metro São Bento fica a 10 minutos a pé.

Rua de Sá da Bandeira

© Porto.pt

A mediar a Avenida dos Aliados e o Mercado do Bolhão encontra-se uma das ruas mais emblemáticas do Porto, a Rua de Sá da Bandeira. Esta rua foi batizada em honra de Bernardo de Sá Nogueira de Figueiredo, um político envolvido no Cerco do Porto.
A Rua de Sá da Bandeira abriu em 1836 com o objectivo de estabelecer um via de comunicação rápida entre a Praça de Dom Pedro (actual Praça da Liberdade) e a Rua do Bonjardim.
Nesta rua do Porto pode assistir a um espectáculo no Teatro Sá da Bandeira, tomar um café no famoso café A Brasileira ou simplesmente dar um saltinho no Mercado do Bolhão (quando este reabrir: está encerrado desde o dia 2018 para obras de renovação).
Nesta rua encontram-se também dois dos melhores hotéis da cidade: o Teatro Hotel e o Pestana Porto – A Brasileira.
Como chegar lá: o Mercado do Bolhão fica a 5 minutos a pé.

Rua de Mouzinho da Silveira


A Rua de Mouzinho da Silveira, paralela à Rua das Flores, foi baptizada em honra de José Xavier Mouzinho da Silveira, uma das mais importantes figuras políticas do Porto durante a revolta liberal de 1820, que começou precisamente na cidade Invicta.
Planeada em 1872 e inaugurada em 1875, a Rua Mouzinho da Silveira serve o mesmo propósito da Rua das Flores, ligando o interior da cidade velha à zona da Ribeira.
Na década de 1870 havia um intenso tráfego comercial na Ribeira, dificultando a condução nas ruas estreitas da cidade medieval. Assim, era urgente a necessidade de uma ligação entre o rio e o centro da cidade, para ligando a zona do antigo Convento de São Bento da Vitória à Rua de São João.
A rua, de desenho rectilíneo com uma ligeira curvatura no final, tomou a rota do Rio da Vila, escondendo o rio num túnel subterrâneo que ajudou a resolver uma das principais preocupações de saúde pública no centro urbano da cidade. Com Luís António Nogueira como projectista, as áreas com curtumes fedorentos e até mesmo o sistema de extração de águas fluviais desapareceram. Não foi um projeto fácil, devido às dimensões da rua e à qualidade da terra, que exigiu uma perfuração significativa.

© mattk1979

Tal como a Rua das Flores, a Rua de Mouzinho da Silveira conheceu uma época economicamente fluorescente graças às suas lojas até ao século XXI, seguido por um período de estagnação. A área perdeu a sua glória económica bem como os seus moradores e as suas lojas, criando a necessidade de uma intervenção imediata. É difícil imaginar a rua que vemos hoje, cheia de vida e de movimento, completamente abandonada às moscas, como estava nem há cinco anos atrás.
A nova vida dada à Rua de Mouzinho da Silveira foi consequência da mesma intervenção urbana que a Rua das Flores passou. Quando a intervenção começou no centro do Porto, havia apenas 23% dos edifícios em boas condições, 30% estavam em um estado razoável, 42% em mau estado e os demais em ruínas. A ideia da intervenção urbana era aumentar os padrões de habitabilidade dos edifícios, melhorar o estacionamento na zona e reparar os pavimentos.
Durante a intervenção urbana houve muitas descobertas arqueológicas e uma delas foi um cemitério na Rua Ferreira Borges, um dos principais motivos que suscitará a abertura de um museu subterrâneo numa secção do Rio da Vila.

© Martha de Jong-Lantink

Encorajo-o a visitar a Rua Mouzinho da Silveira e ver o convento gótico de São Francisco com desejos barrocos que partilha uma parede com o Palácio da Bolsa. Há também a Casa do Infante, com o seu arquivo histórico e um museu onde encontra uma maqueta da cidade medieval. Nas proximidades, existe também o mercado Ferreira Borges.
Como chegar: A estação de metro de São Bento fica a 2 minutos a pé.

Guarde este artigo para mais tarde:

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